WWF alerta para pontos de rutura do planeta “potencialmente catastróficos”.
A organização ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF) avisou hoje que o que acontecer nos próximos cinco anos em termos de sustentabilidade determinará o futuro da vida na Terra.
“Temos cinco anos para colocar o mundo numa trajetória sustentável antes que as reações negativas da degradação da natureza e das alterações climáticas combinadas nos coloquem na encosta descendente de pontos de rutura descontrolados”, alerta a associação na edição deste ano do relatório “Índice Planeta Vivo”.
O relatório anual é compilado pela WWF há 15 anos e faz uma análise das tendências da biodiversidade global. A cada edição “assistimos a um maior declínio do estado da natureza e a uma desestabilização do clima e isto não pode continuar”, afirma a WWF no documento.
No documento deste ano a organização internacional salienta que há um risco real de fracasso, com “consequências quase impensáveis”, e que para manter um planeta vivo são precisas ações e mais esforços de conservação. É necessária, resume, uma transformação dos sistemas alimentares, energéticos e financeiros.
Lembrando que apesar do declínio da natureza houve populações que ou estabilizaram ou aumentaram em resultado de esforços de conservação, o documento salienta a importância das áreas protegidas (atualmente 16% das terras e 08% dos oceanos a nível global) e diz que os países precisam de alargar, melhorar, ligar e financiar adequadamente os seus sistemas de áreas protegidas, respeitando simultaneamente os direitos e as necessidades das pessoas afetadas.
A WWF defende que é preciso mudar o sistema alimentar mundial, “intrinsecamente ilógico”, porque “está a destruir a biodiversidade, a esgotar os recursos hídricos mundiais e a alterar o clima, mas não está a fornecer a nutrição de que as pessoas necessitam”.
A produção alimentar “é um dos principais fatores de declínio da natureza: utiliza 40% de toda a terra habitável, é a principal causa da perda de habitats, representa 70% da utilização da água e é responsável por mais de um quarto das emissões de gases com efeito de estufa”, refere o relatório.
A solução passa, diz a WWF, por produzir mas respeitando a natureza, consumir-se menos carne e mais vegetais, reduzir a perda e o desperdício de alimentos e promover sistemas alimentares sustentáveis.
No setor energético, o principal fator das alterações climáticas, é preciso uma transição rápida, ecológica e justa. Nos próximos cinco anos é preciso triplicar as energias renováveis, duplicar a eficiência energética e eletrificar 20 a 40% dos automóveis ligeiros.
E depois, enfatiza ainda a WWF, é preciso transformar o sistema financeiro, reorientando o financiamento.
A nível mundial, mais de metade do PIB (55%) – cerca de 58 biliões de dólares – depende moderada ou fortemente da natureza e dos seus serviços. No entanto, “o nosso sistema económico atual valoriza a natureza quase a zero, conduzindo a uma exploração insustentável dos recursos naturais, à degradação ambiental e às alterações climáticas”, diz a WWF no Índice.
Subsídios e incentivos que alimentam as crises da natureza e do clima representam quase sete biliões de dólares por ano, mas os fluxos financeiros para soluções baseadas na natureza são 200 mil milhões de dólares.
“Redirecionando apenas 7,7% dos fluxos de financiamento negativo, poderíamos colmatar o défice de financiamento para soluções baseadas na natureza e obter benefícios para a natureza, o clima e o bem-estar humano”, diz a WWF.
E ainda segundo o relatório há outros números para reflexão: o financiamento global para o setor da energia é cerca de 1,3 biliões de dólares, valores de 2021/22. Mas são precisos nove biliões anuais até 2030.
Do mesmo modo, a transição para um sistema alimentar sustentável custa 390 a 455 mil milhões de dólares anuais. Mas é menos do que os governos gastam em subsídios agrícolas prejudiciais para o ambiente.
WWF alerta para pontos de rutura do planeta “potencialmente catastróficos”
A associação ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF) alertou hoje para setores/regiões do planeta que estão quase a entrar em rutura e diz que caso as tendências se mantenham as consequências serão “potencialmente catastróficas”.
A WWF publica anualmente um relatório sobre o estado de saúde do planeta, chamado “Índice Planeta Vivo”, e na edição deste ano, hoje divulgada, alerta para a aproximação de “pontos de viragem perigosos”.
A associação ambientalista internacional alerta que na natureza há mudanças que podem ser pequenas e graduais mas podem ter “impactos cumulativos” que vão desencadear mudanças maiores e mais rápidas, que quando atingem um limiar a mudança pode perpetuar-se sozinha, atingindo um ponto de rutura.
Há pontos de rutura globais, alerta a WWF, que são ameaças graves para a humanidade porque danificam os sistemas de suporte de vida na Terra. “Há vários pontos de rutura a nível mundial que estão a aproximar-se rapidamente”.
Segundo o relatório, um ponto de rutura pode ser a mortalidade em massa dos recifes de coral, que a acontecer destruiria a pesca e a proteção contra tempestades, e outro o da floresta tropical amazónica, que libertaria toneladas de carbono para a atmosfera perturbando os padrões climáticos do planeta.
O colapso da corrente circular a sul da Gronelândia (colapso do giro subpolar) também afetaria drasticamente o clima na Europa e América do Norte, e o derretimento dos mantos de gelo da Gronelândia e da Antártida Ocidental faria subir o nível do mar em muitos metros, além de desencadear o degelo do “permafrost” (solo gelado em permanência) em larga escala provocando grandes emissões de dióxido de carbono e metano.
Há pontos de rutura que já estão a acontecer a nível regional, diz a WWF, que exemplifica com o que se passa na América do Norte, onde a infestação de escaravelhos do pinheiro e os incêndios florestais empurram as florestas de pinheiros para a rutura, sendo substituídos por arbustos e prados.
Na Amazónia a desflorestação e alterações climáticas reduziram a chuva e o ponto de rotura será quando deixar de haver condições para a floresta tropical, com “consequências devastadoras para as pessoas, a biodiversidade e o clima global”.
“Um ponto de viragem poderia estar no horizonte se apenas 20-25% da floresta amazónica fosse destruída e estima-se que 14-17% já tenha sido desflorestada”, avisa a WWF.
A WWF é uma organização independente de conservação com mais de 38 milhões de seguidores e uma rede global ativa em mais de 100 países.
A Sociedade Zoológica de Londres (Instituto de Zoologia) gere o Índice Planeta Vivo com a WWF. É uma instituição de conservação fundada em 1826 e que trabalha para restaurar a vida selvagem no Reino Unido e em todo o mundo.