Para o autarca de Gaia, os 135 anos de vida do jornal “não foram em vão” razão por que “há que mobilizar todos, empresários e autarcas” na sua solução.
O presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia defendeu hoje no Porto a inscrição do Jornal de Notícias (JN) na lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO, desafiando o Estado a ter um papel central na candidatura.
A mensagem vídeo de Eduardo Vítor Rodrigues foi partilhada no debate para encontrar caminhos que permitam a viabilização no diário do Porto, que reuniu hoje cerca de 100 pessoas nas instalações do Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto.
Para o autarca de Gaia, os 135 anos de vida do jornal “não foram em vão” razão por que “há que mobilizar todos, empresários e autarcas” na sua solução, assinalando que “na capital estão os recursos todos para financiar esta imprensa” enquanto a Norte “são precisas mãos dadas”.
Neste contexto, prosseguiu, há que “evoluir o debate para uma classificação no âmbito da UNESCO”, reclamando que o “Estado pode e deve aqui ter um papel mais central”.
Do presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa surgiu outra sugestão de financiamento de “uma comunicação social isenta”: “uma redistribuição dos 192 milhões de euros anuais da taxa de audiovisual, deixando de contemplar não só a RTP e a RDP”.
A diretora do JN, Inês Cardoso refletiu sobre a situação no diário e expressou a expectativa de que “com tanta dor este seja o momento de viragem para fazer a reflexão sobre o serviço que o jornalismo presta a sociedade”.
“O JN neste momento não tem tempo (…) é preciso agir com urgência, pois cada semana que passa é muito tempo. A decisão da ERC de avançar com um procedimento dá-nos alguma esperança. A liberdade passa mesmo pela informação e vamos celebrar 50 anos do 25 de abril”.
O músico Pedro Abrunhosa defendeu que num período em que o populismo ganha terreno “o jornalismo é a grande instituição em que os democratas colocam a esperança”.
A presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, defendeu na sua intervenção, que no “ano em que se comemoram 50 anos de liberdade isto é particularmente grave”, recusando a “extinção de um jornal que representa o pulsar do Norte”.
“Não tenho solução para apresentar devido à legislação, mas ela pode ser adaptada na relação das autarquias com os órgãos de comunicação social (…) espero que tenhamos condições para influenciar, no bom sentido, essas soluções”, acrescentou.
Para Sérgio Humberto, presidente da Câmara da Trofa, “isto já não vai com palavras, tem de ser resolvido à moda do Norte (…) pois o que estão a fazer é desinvestir no Porto para centralizar em Lisboa”.
Numa intervenção também pré-gravada, o autarca do Porto, Rui Moreira manifestou uma “grande preocupação” e enviou “uma palavra de esperança”, argumentando que “não se pode deixar morrer o JN”.
O antigo jornalista do diário portuense, Germano Silva, que começou no JN em 1956, caracterizou o que se passa no jornal como “uma crise que não tem rosto”, recorrendo à memória, emocionado, para lembrar que “houve muitos momentos de indefinição, mas o jornal nunca deixou de pagar aos empregados”.
O bispo do Porto, Manuel Linda interveio para dizer “não ter soluções miraculosas”, mas comprometeu-se “com a defesa de um jornalismo defensor da nobreza da democracia”.
Em 06 de dezembro de 2023, em comunicado interno, a Comissão Executiva da Global Media Group, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação, que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.