Tiago Oliveira defendeu que esta frota deve ser gerida “numa lógica mais flexível” e recordou que naquela semana só Portugal é que estava exposto ao risco de incêndio.
O presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais defende que os meios aéreos do Mecanismo Europeu de Proteção Civil devem ser “mais flexíveis” para que possam atuar na prevenção e não apenas em situações graves.
Em entrevista à Lusa, Tiago Oliveira considera que os oito meios aéreos que estiveram em Portugal a combater os incêndios da terceira semana de setembro ao abrigo do Mecanismo Europeu de Proteção Civil “podiam ter vindo mais cedo” para ajudar a apagar os fogos que começaram antes do período mais crítico e, assim, teriam contribuído para “menos reacendimentos”, sustentando que a solução .
“Os meios aéreos são úteis no ataque inicial ou para proteger uma outra casa, um ou outro aglomerado populacional, mas a solução não está ali [nos meios aéreos]”, disse o presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), precisando que as avionetas que vieram de Espanha, França e Itália chegaram ao país tarde e que apenas “lidaram com a consequência e não com a causa do problema”.
Nesse sentido, defendeu que devia existir um pré-posicionamento de meios na UE quando há alerta para o risco de incêndio, mas questionou se a União Europeia o permite.
“Conseguimos hoje em dia antecipar o risco. Vai ser na segunda e na terça e vai ser ali como os mapas mostravam e se calhar fazia sentido ter trazido os meios mais cedo, mas a União Europeia permite ou temos que esperar que a subsidiariedade de baixo para cima colapse para depois eles chegarem em auxílio, porque eles veem só para mitigar consequências mais graves”, disse, frisando que esta questão tem de ser pensada em Bruxelas no âmbito do RescEU, que integra o Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia.
Tiago Oliveira defendeu que esta frota deve ser gerida “numa lógica mais flexível” e recordou que naquela semana só Portugal é que estava exposto ao risco de incêndio.
“A Grécia não estava, a Itália não estava e, portanto, os meios podiam ter sido todos locados em antecipação para cá [Portugal]. E nós quando tivemos durante o verão noites super frescas, podemos ter ido ajudar os gregos”, afirmou.
O responsável recordou igualmente que “houve alturas” que não puderam atuar devido ao fumo e ao vento, o que mostra que os meios aéreos “são completamente ineficazes” quando há incêndios severos.
Na entrevista à Lusa, o presidente da AGIF disse também que o incendiarismo é a causa principal dos incêndios no verão e o que gera maior área ardida, considerando esta uma questão fundamental.
“O primeiro-ministro tem toda a razão em chamar a atenção para o tema”, disse.
Tiago Oliveira apelou ainda às televisões para que não passa tantas imagens de chamas, porque estão a promover o incendiarismo.
“Quando estão a fazer reportagens dos incêndios, não passem imagens de chamas, passem casas queimadas, passem o sofrimento, passem a notícia, mas não mostrem chamas porque sabemos e a PJ tem isso bem cartografado e catalogado que há efeitos miméticos. Houve três dias em que só havia [nas televisões] chamas, chamas, chamas e há efeitos miméticos, pessoas têm demências, pessoas com poucas capacidades cognitivas que aproveitam aquele momento para provocar meios para demonstrar o seu pequeno poder para fazer coisas”, afirmou.
Para Tiago Oliveira, o fogo posto “é um trabalho de polícia, de saúde pública, de reinserção social, mas tem que ser trabalhado”.
Nove pessoas morreram e 175 ficaram feridas devido aos incêndios que atingiram a terceira semana de setembro sobretudo as regiões Norte e Centro do país. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil exclui desta contagem os dois civis que morreram de doença súbita.
Estes incêndios provocaram 135 mil hectares de área ardida, segundo o sistema europeu Copernicus e destruíram dezenas de casas.