Interrogado se concorda que o Governo não deve negociar e ceder constantemente perante as pressões, o chefe de Estado contrapôs que “noutras circunstâncias o Governo cedeu e, portanto, cedeu porque achava que era justo”.
O Presidente da República considerou hoje que é fundamental resolver o problema do estatuto dos bombeiros sapadores, mas criticou o uso de tochas e petardos e a queima de pneus nas suas manifestações.
“O fundamental é o seguinte, é que, do lado das autoridades, que haja a noção de que o estatuto tem de avançar, do lado dos bombeiros, que há métodos que não os prestigiam, são opostos aos seus interesses e à sua credibilidade, como usar o fogo, queimar pneus, usar petardos e usar tochas numa manifestação de bombeiros”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa.
Segundo o chefe de Estado, que falou aos jornalistas antes de participar numa iniciativa do jornal Público, em Lisboa, “há um problema de estatuto” dos bombeiros sapadores, “que resulta de a entidade patronal serem os municípios, quem estabelece o estatuto legal ser o Estado e, portanto, haver aqui uma relação triangular a três”.
“É fundamental resolver esse problema, porque já vem de longe, passaram mais de 20 anos, tem que ser resolvido”, apelou.
Por outro lado, “quanto à forma de luta” utilizada nas recentes manifestações, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se preocupado com a “credibilidade das instituições” mais do que com “o problema da legalidade”, referindo que “os bombeiros são, talvez, a atividade vocacional ou profissional mais bem vista” em Portugal.
“Por isso, eu não considero feliz que, sendo uma das razões da segurança criada nas pessoas a do combate ao fogo, nas manifestações utilizem o fogo como instrumento de luta laboral”, afirmou, criticando “ter havido pneus ardidos em frente à Assembleia da República” ou “tochas em frente da sede do Governo”.
“Como também não me parece feliz usarem petardos, porque o comum do cidadão não pode fazer manifestações usando petardos”, acrescentou.
Questionado se deve haver consequências por isso, respondeu: “Não digo mais nada. Eu acho que as pessoas percebem, isto é tão claro, tão claro, tão claro, percebem que é um problema de bom senso”.
Interrogado se concorda que o Governo não deve negociar e ceder constantemente perante as pressões, o chefe de Estado contrapôs que “noutras circunstâncias o Governo cedeu e, portanto, cedeu porque achava que era justo”.
“Portanto, se é justo, justifica-se a cedência”, sustentou.
“Agora, não se justifica, isso concordo, é admitir certas formas de luta”, reiterou.
Marcelo Rebelo de Sousa contou que acompanhou “de perto” a manifestação de terça-feira de bombeiros sapadores, e encontrou vários deles à hora de almoço, mas também pela televisão, e pareceu-lhe “que era uma coisa que não servia os interesses dos bombeiros”.
O Presidente da República não quis associar as recentes manifestações de bombeiros a movimentos inorgânicos: “Eu não queria fazer essa ligação”.
A este propósito, mencionou que há quem preveja que, “uma vez aprovado o Orçamento do Estado, havendo uma situação económica relativamente estável e uma situação política estável, que conflitos sociais ou laborais podem introduzir intranquilidade num ano que é um ano quase eleitoral, por causa das eleições locais”.
“Não digo isso”, ressalvou, em seguida.