Tony dos Santos, um luso-belga na dianteira do novo foguetão europeu Ariane 6.
O nanossatélite português ISTSat-1, construído por estudantes e professores do Instituto Superior Técnico (IST), é hoje lançado para o espaço no voo inaugural do novo foguetão europeu Ariane 6.
O lançamento, da base espacial europeia, em Kourou, na Guiana Francesa, está previsto para entre as 19:00 e as 23:00 (hora de Lisboa).
O teleporto de Santa Maria, nos Açores, operado pela Thales Edisoft Portugal, vai ser a primeira estação a fornecer dados do foguetão, cujo voo inaugural “marca o regresso da capacidade operacional europeia de acesso ao espaço”.
A bordo do foguetão seguirá o ISTSat-1, o primeiro nanossatélite concebido por uma instituição universitária portuguesa e o terceiro satélite português a ser enviado para o espaço, depois do nanossatélite Aeros MH-1, em março, e do microssatélite PoSat-1, em 1993, que envolveram a participação de empresas.
O ISTSat-1 vai servir para testar um novo descodificador de mensagens enviadas por aviões que permitirá a sua deteção em zonas remotas e aferir a viabilidade do uso de nanossatélites na receção de sinais sobre o estado de aeronaves, como velocidade e altitude, para efeitos de segurança aérea.
O nanossatélite, um “cubo” que custou cerca de 270 mil euros, vai estar posicionado a 580 quilómetros da Terra, acima da Estação Espacial Internacional, a “casa” e laboratório dos astronautas, e enviar os primeiros dados até cerca de um mês depois do início das operações.
Ficará em órbita entre cinco e 15 anos antes de reentrar na atmosfera.
Junto com o ISTSat-1 irão outros satélites e equipamentos científicos de instituições, empresas e agências espaciais estrangeiras.
O Ariane 6, cujo voo inaugural ocorre com um atraso de quatro anos e teve um custo de 4,5 mil milhões de euros, irá suceder ao Ariane 5, que fez o seu último voo em julho de 2023.
A Agência Espacial Europeia (ESA), da qual Portugal é Estado-Membro desde 2000, prevê um segundo lançamento, desta vez comercial, da nova gama de foguetões europeus até ao final do ano. Para os dois anos seguintes estão programados 14 voos.
É com este tipo de foguetão que a ESA pretende enviar em 2026 a sonda espacial Plato, que irá “fotografar” milhares de estrelas e procurar planetas semelhantes à Terra. A missão tem participação científica portuguesa, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
A assinalar a data do lançamento do ISTSat-1, o polo de Oeiras do IST promove o debate “Como preparar a próxima geração para uma nova era no espaço?” e assina um protocolo com o município local e com o CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento para a criação do Oeiras Valley Space Hub, um centro direcionado para atividades espaciais.
O ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, e a secretária de Estado da Ciência, Ana Paiva, participam na cerimónia que assinala o lançamento do Ariane 6 no polo de Oeiras do Instituto Superior Técnico.
Tony dos Santos, um luso-belga na dianteira do novo foguetão europeu Ariane 6
O novo foguetão europeu Ariane 6, que será hoje lançado da Guiana Francesa num voo inaugural levando a bordo um nanossatélite português, tem como gestor de missão o luso-belga Tony dos Santos, a quem se juntarão outros portugueses.
“O meu principal objetivo é garantir que todas as fases da campanha de lançamento decorram de forma harmoniosa e segura”, sintetizou à Lusa Tony dos Santos, que trabalha desde 2011 na Agência Espacial Europeia (ESA), responsável pela certificação do voo, e desde 2014 no projeto do Ariane 6.
Na prática, o engenheiro nascido e criado na Bélgica, mas filho de pais portugueses, vai “coordenar todas as atividades” de lançamento, incluindo o controlo da preparação dos sistemas de monitorização de voo, a avaliação pós-voo e a confirmação de parâmetros dos satélites que seguirão a bordo, como comunicação de dados, localização, segurança e sistemas meteorológicos.
Um dos satélites que o Ariane vai transportar e colocar em órbita é o ISTSat-1, um nanossatélite construído por estudantes e professores do Instituto Superior Técnico (IST) que servirá para testar a viabilidade destes engenhos para detetar aviões em zonas remotas.
No lançamento inaugural do Ariane 6, crucial para certificar o foguetão para voos comerciais, a serem operados pela empresa francesa Arianespace, que o construiu, estão envolvidos outros portugueses, nomeadamente dois integrados nas equipas de comunicações, um na organização da análise dos dados de testes e outro ligado aos sistemas mecânicos do foguetão.
Tony dos Santos explicou que o Ariane 6, sucessor do Ariane 5, no qual trabalhou e que fez o seu último voo em julho de 2023, permitirá assegurar “o acesso autónomo e garantido da Europa ao espaço”, possibilitando-lhe “cumprir todas as suas missões em investigação científica, iniciativas estratégicas, crescimento económico, mantendo colaborações espaciais internacionais e sustentando a liderança tecnológica da Europa”.
Segundo o gestor de missão, a nova gama de foguetões europeus foi construída para ter uma “versatilidade muito maior e custos significativamente reduzidos”, permitindo duplicar a taxa de lançamentos para o espaço.
Depois do voo inaugural, Tony dos Santos irá supervisionar todas as atualizações que tiverem de ser feitas ao novo foguetão antes do segundo voo, previsto para ocorrer até ao fim do ano.
Hoje, o primeiro lançamento do Ariane 6, da base espacial europeia, em Kourou, na Guiana Francesa, está previsto para entre as 19:00 e as 23:00 (hora de Lisboa).
Como gestor técnico da base de Kourou, Tony dos Santos acompanhou a construção da plataforma de lançamento do novo foguetão. Na ESA está envolvido em iniciativas de transição energética, no estudo de recuperação de módulos de foguetões e na exploração da possibilidade de voos tripulados a partir da Guiana Francesa.
Vive em Kourou, viveu em Paris, onde trabalhou na extinta empresa francesa Aérospatiale, nasceu, cresceu e completou os estudos na Bélgica, “só visitando Portugal nas férias”.
“Tenho dupla nacionalidade, belga e portuguesa. Sabe.. camaleões portugueses”, gracejou.