O primeiro-ministro frisou que, para que seja possível a paz, “é preciso valorizar o direito internacional, o direito humanitário”, nomeadamente através da reforma das Nações Unidas, como defendeu na última Assembleia Geral desta organização.
O primeiro-ministro escusou-se hoje a comentar diretamente a autorização dada por Washington à Ucrânia para utilizar armas norte-americanas de longo alcance contra a Rússia, dizendo estar sobretudo preocupado com mecanismos diplomáticos para a paz.
À margem da cimeira do G20, cujos trabalhos Portugal integra pela primeira vez como observador a convite da presidência brasileira, Luís Montenegro respondeu a perguntas da comunicação social, nomeadamente sobre esta autorização dada pelo Presidente Joe Biden, a cerca de dois meses de deixar a Casa Branca (presidência norte-americana).
“Mais do que comentar essa posição dos EUA, aquilo que me hoje preocupa mais é que nós não estamos a falar da paz, não estamos a falar do mecanismo diplomático que tem de se colocar em cima da mesa”, afirmou, salientando que quer Estados Unidos, quer Rússia, quer União Europeia estão hoje sentados à mesma mesa na reunião do G20.
O primeiro-ministro frisou que, para que seja possível a paz, “é preciso valorizar o direito internacional, o direito humanitário”, nomeadamente através da reforma das Nações Unidas, como defendeu na última Assembleia Geral desta organização, em setembro.
“Nós não podemos continuar a ter a Organização das Nações Unidas bloqueada por um Conselho de Segurança onde alguns dos países que têm uma representação permanente estão presos ao seu próprio interesse e portanto a bloquear qualquer solução, inclusivamente de concretização de decisões do próprio Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas”, defendeu.
Questionado se sentiu coesão e convergência nos países participantes na reunião do G20, que junta as principais economias do mundo, respondeu positivamente.
“Acho que nos princípios houve uma grande confluência e convergência de posições. Eu diria que até a intervenção da Federação Russa desse ponto de vista, no que diz respeito exclusivamente ao objetivo de podermos ter maiores oportunidades para os países em desenvolvimento, de combater a fome, de combater a pobreza, desse ponto de vista também foi um contributo de assinalar”, afirmou.
No entanto, assinalou, essa posição é depois contraditória com a situação no terreno “nomeadamente no caso da responsabilidade direta da Rússia com a invasão da Ucrânia”.
“Do ponto de vista dos princípios, acho que há uma grande convergência à volta da mesa, com todas as geografias do planeta a convergirem, mas efetivamente há depois no terreno alguns obstáculos que contendem com esse objetivo”, lamentou.
A decisão do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, vem na sequência do acordo alcançado em maio sobre a utilização de armas norte-americanas para atacar regiões fronteiriças do lado russo da fronteira, mas não inclui a utilização de Army Tactical Missile Systems (ATACMS) ou outros mísseis de longo alcance.
A Ucrânia há muito que pedia essa mudança, mas a atual administração dos EUA tinha hesitado até agora tomar uma decisão, receando que isso pudesse levar a uma nova escalada do conflito, iniciado em fevereiro de 2022.
A autorização dada pelo Presidente Joe Biden, a cerca de dois meses de deixar a Casa Branca (presidência norte-americana), já obteve reação do Kremlin (presidência russa), que acusou os EUA de estarem a atirar gasolina para a fogueira.