Para Paulo Rangel, uma mudança de política da administração norte-americana poderá dar à União Europeia “o incentivo a que alguns passos” sejam dados.
O ministro dos Negócios Estrangeiros assumiu, em Nova Iorque, que um novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos (EUA) levará a que Portugal e a União Europeia façam adaptações, mas nega pessimismo.
“Para Portugal, os EUA são um parceiro estratégico fundamental. São um parceiro no âmbito da segurança, da defesa, hoje com relações económicas e culturais ao nível, por exemplo, da investigação e da ciência, fundamentais e com grandes benefícios para ambos os países. E por isso nós trabalhamos com qualquer administração americana. Sempre que há uma mudança de administração americana, e neste caso, até há uma mudança de partido (…), evidentemente, tem que haver ajustamentos, tem que haver adaptações”, defendeu na quinta-feira Paulo Rangel.
Em declarações aos jornalistas em Nova Iorque, onde apresentou formalmente a campanha de Portugal para uma vaga de membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o ministro indicou que Portugal já está a preparar a agenda da relação com o governo de Donald Trump, admitindo a necessidade de se “fazer o trabalho de casa”.
“Nós trabalhamos com todas as administrações e já estamos a fazê-lo. (…) Fiz múltiplos contactos ao longo do dia com vários responsáveis americanos e com muitos representantes de vários países. (…) Portugal já está a preparar aquilo que será a agenda da próxima relação com a administração americana. Sinceramente, sobre esse ponto de vista, eu não estou verdadeiramente preocupado. Penso que nós temos que fazer o trabalho de casa e haverá com certeza ajustamentos”, advogou.
Questionado sobre o impacto que um corte no apoio norte-americano à Ucrânia teria na Europa, Paulo Rangel considerou prematuro abordar os planos do novo executivo republicano, quer para esse conflito, quer para outros ao redor do mundo.
Contudo, recordou as pressões que vêm sendo feitas por “várias administrações americanas” para um maior investimento em matéria militar e para que haja uma distribuição equitativa dos custos de defesa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Ao longo do último ano, Donald Trump declarou que não pretende manter o apoio à Ucrânia e, há alguns meses, afirmou que encorajaria a Rússia a “fazer o que raio quisesse” com os países da NATO que não cumprissem as diretrizes de gastos com defesa.
“Sabemos que essa pressão, que já era grande e que não era apenas da administração Trump – a administração de Joe Biden foi a que levou isso mais longe em tempos práticos, foi a conseguiu mais resultados – vai aumentar”, disse Rangel.
“No caso português, as nossas relações são excelentes e nós vamos investir duplamente: vamos investir na relação bilateral e vamos investir naturalmente na relação que é feita em termos multilaterais, seja através da NATO, com defesa e segurança, seja através da União Europeia”, reforçou o ministro.
Para Paulo Rangel, uma mudança de política da administração norte-americana poderá dar à União Europeia “o incentivo a que alguns passos” sejam dados.
“Portanto, sinceramente, eu não tenho uma visão, digamos….eu não estou pessimista”, garantiu o líder da diplomacia portuguesa.
Em relação à agenda económica de Donald Trump, que defende a aplicação de tarifas e um maior protecionismo económico, Paulo Rangel recordou ainda que durante a administração de Joe Biden “a Lei da Redução da Inflação obrigou a negociações muito difíceis entre a União Europeia e os EUA, com impactos económicos importantes na Europa”.
“Portanto, haverá com certeza mudanças de alcance geopolítico e geoeconómico”, sublinhou.
O republicano Donald Trump foi eleito o 47.º Presidente dos Estados Unidos, tendo superado os 270 votos necessários no colégio eleitoral, quando ainda decorre o apuramento dos resultados.
Trump segue também à frente da adversária democrata no voto popular, com 50,9% contra os 47,6% de Kamala Harris.
O Partido Republicano recuperou ainda o Senado (câmara alta da Congresso) ao ultrapassar a fasquia de 51 eleitos, enquanto na Câmara dos Representantes (câmara baixa) os últimos dados indicam que se encontra igualmente na frente no apuramento, com 210 mandatos, a apenas oito da maioria.