Em declarações à agência Lusa, o coordenador do encontro, João Silva, adiantou que o objetivo da iniciativa é afirmar uma agenda reivindicativa dos internos.
Os médicos internos, que representam um terço da força de trabalho do Serviço Nacional de Saúde, reúnem-se no sábado, em Coimbra, para dar voz aos seus problemas e reivindicações como a reintegração na carreira médica.
“Dada a forte mobilização dos internos durante a luta dos médicos em 2023”, a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) decidiu organizar o 1.º Encontro Nacional de Internos, por considerar ser “urgente discutir e construir pontes” para que os jovens médicos “deixem a invisibilidade a que foram sujeitos pelos sucessivos governos”.
Em declarações à agência Lusa, o coordenador do encontro, João Silva, adiantou que o objetivo da iniciativa é afirmar uma agenda reivindicativa dos internos, para lhes “dar voz”, porque se torna cada vez mais premente terem respostas concretas aos seus problemas e a garantia de que vão ter boas condições de trabalho e formativas.
Uma das reivindicações da Fnam e dos internos é a sua reintegração na carreira médica, uma medida que, segundo João Silva, permitiria valorizar “uma parte bastante significativa” dos médicos.
“Neste momento temos uma carga de trabalho assistencial muito grande e temos que estar sempre bastante disponíveis para apoiar os serviços de internamento, os serviços de urgência e muitas vezes sem condições de trabalho dignas”, salientou.
Segundo o interno de psiquiatria, esta situação leva a que não tenham tempo para estudar, para reunir com o orientador, para irem a formações, congressos, nem para conciliar “o internato com vida pessoal e familiar”, além de verem a formação cada vez mais prejudicada por rácios de orientadores de formação e internos inadequados e por terem de financiar a sua participação em cursos e congressos.
Perante esta situação, muitos médicos quando terminam o internato acabam por “ir trabalhar para o serviço privado ou por emigrar em busca de melhores condições de trabalho e de um horário digno”, que lhes permita ter tempo para se dedicarem a outros projetos, “que não só o internamento, a urgência”.
“Nós percebemos que faz parte do nosso trabalho, mas não queremos que o trabalho seja exclusivamente dedicado a isto”, rematou.
João Silva realçou ainda a responsabilidade que os internos têm nos serviços por falta de especialistas, nomeadamente nas urgências, em que a decisão sobre os doentes acaba por recair “nos internos mais velhos”, que são colocados “numa posição muito injusta”.
A presidente da Fnam e presidente da Comissão Executiva do encontro assegurou à Lusa que vai continuar a lutar para que os internos sejam reintegrados na carreira médica, lembrando que representam um terço dos 31.000 médicos que trabalham no SNS
“São médicos de mão cheia, assumem responsabilidades e, portanto, não faz qualquer tipo de sentido continuarem a estar fora da carreira”, defendeu Joana Bordalo e Sá, comentando que, se por alguma razão, deixassem de existir “era o colapso total” do SNS.
No seu entender, são “uma peça basilar”, devendo por isso ter “boas condições de trabalho, serem valorizados em termos salariais e, acima de tudo, ter uma formação de qualidade”.
Contudo, “têm sido maltratados ao longo do tempo” e tem havido “alguma perda também na formação”, lamentou, manifestando também preocupação com a sobrecarga de trabalho a que estão sujeitos.
Lembrou a este propósito um estudo da Ordem dos Médicos, segundo o qual 25% dos internos apresenta sintomas graves de “burnout” e 55,3% está em risco de o desenvolver.
O “burnout” e o assédio laboral são dois dos temas que vão estar em debate no encontro, organizado pelos internos associados da federação.
“Os médicos internos como são mais vulneráveis estão numa posição mais vulnerável e sabemos que o assédio laboral é algo que existe e é algo que até pode muitas vezes fazer os médicos internos desistir do seu internato, da sua formação e até da profissão”, salientou.
Questionada se tem vindo a aumentar o número de queixas de assédio laboral que chegam à Fnam, a sindicalista disse que “felizmente não chegam todos os dias”, mas tem sido crescente e não só de internos.
“Também queremos ajudar os médicos e, sobretudo, os mais jovens que estão numa posição de maior vulnerabilidade a identificar estas situações”, frisou Joana Bordalo e Sá.