Há cada vez mais alunos nas escolas mas muitos não aprendem

Trabalhadores com formação superior recebem mais 73% do que quem tem o 12º ano.

Janeiro 8, 2025

Portugal tem cada vez mais jovens adultos qualificados, mas há muitas falhas nas aprendizagens, alerta o Conselho Nacional de Educação, que pede inovação na forma de ensinar e mais formação dos professores para melhorar a qualidade do ensino.

Já são poucos os alunos que não frequentam a escola e são cada vez menos aqueles que reprovam, sublinha o relatório Estado da Educação 2023, hoje divulgado, que mostra que o maior problema ainda é no ensino secundário, onde um em cada dez alunos ainda fica para trás (9,8%).

Apesar de haver cada vez menos jovens fora da escola, “há percentagens elevadas de alunos que não aprendem o que está previsto no currículo”, alerta o presidente do CNE, Domingos Fernandes, apontando como “particularmente preocupante e grave” a situação dos mais novos, que têm demonstrado grandes dificuldades na escrita e na matemática.

“O país necessita de pôr em prática um programa especificamente orientado para melhorar a qualidade do ensino e das aprendizagens nos primeiros anos”, escreve o presidente do CNE, defendendo medidas que garantam a formação inicial e contínua dos professores.

Também é preciso apostar na organização e funcionamento pedagógico das escolas e em sistemas de apoio, de acompanhamento e avaliação, diz Domingos Fernandes.

“Não se pode deixar alunos pelo caminho, não se pode desleixar os apoios diversificados de que os alunos necessitam e não se pode excluir, sem mais nem menos, aqueles que revelam dificuldades”, defende o presidente do CNE.

A criação de uma política apostada em melhorar o ensino e as aprendizagens deve passar por “programas de formação inicial e contínua de professores que tenham realmente em conta os conhecimentos e competências que têm de ser desenvolvidas sobretudo no que se refere ao conhecimento científico inerente à disciplina ou disciplinas que se lecionam, ao conhecimento pedagógico, ao conhecimento do currículo e, em geral, à inovação pedagógica”.

O problema também se sente no ensino superior e Domingos Fernandes considera urgente “investir deliberada e consistentemente na melhoria dos conhecimentos pedagógicos dos seus professores”.

“É necessário inovar nas práticas de ensino e de avaliação e criar ambientes em que os estudantes sejam desafiados a pensar, a ser autónomos, a exercitar o pensamento crítico e a criatividade e a serem capazes de mobilizar, integrar e utilizar conhecimentos e competências para resolver uma diversidade de problemas”, defende.

O relatório do CNE alerta também para a necessidade de continuar a combater as desigualdades, que dependem do nível educativo dos pais, mas também das regiões do país onde vivem os alunos ou, mais recentemente, do seu local de nascimento.

Os últimos dados do Ministério da Educação apontavam para um aumento de 160% do número de alunos migrantes em apenas cinco anos, chegando a cerca de 140 mil estudantes estrangeiros no passado ano letivo, o que representa 14% dos alunos do ensino básico e secundário. 

A maioria destes alunos chega às escolas sem saber falar Português e são “elevadas as taxas de retenção e desistência das crianças e jovens cujos progenitores são estrangeiros”, o que aponta para “a necessidade de ativação efetiva de medidas de inclusão e discriminação positiva”, refere o estudo.

O relatório alerta ainda para a necessidade de se conhecer a “eficiência e eficácia organizacional e pedagógica da disciplina de Português Língua Não Materna (PLNM) e dos processos de acolhimento” nas escolas, considerando que “só deste modo será possível agir de forma consistente e sustentada”.

Os investigadores pedem, por isso, “informação sistematizada, baseada em indicadores estabilizados, que permitam acompanhar taxas de cobertura e de frequência da disciplina de PLNM”.

Trabalhadores com formação superior recebem mais 73% do que quem tem o 12º ano

Os trabalhadores com formação superior recebem, em média, mais 73% do que o salário médio de quem tem apenas o ensino secundário, revela o relatório anual do Conselho Nacional de Educação (CNE), concluindo que “estudar compensa”.

São cada vez mais os jovens com formação superior em Portugal e “quanto mais elevadas são as qualificações, maior a perspetiva de uma vida melhor”, sublinha o relatório do Estado da Educação 2023, hoje divulgado pelo CNE.

Quanto mais longe se avança nos estudos, maiores são as probabilidades de se conseguir um emprego e um melhor salário, mostram os dados apresentados no estudo.

Em 2023, a taxa de emprego dos jovens adultos (entre 25 e 34 anos) com ensino secundário ou pós-secundário era de 84,9%, um valor que subia para 88,3% entre os jovens com formação superior.

Além de ser mais fácil arranjar emprego, quem tem formação superior aufere “um rendimento mensal correspondente, em média, a 173% do salário médio dos trabalhadores que concluem o ensino secundário”, refere o relatório anual.

Os investigadores concluem que “estudar compensa”, mas alertam para as “diferenças assinaláveis” entre os salários pagos em Portugal e noutros países europeus.

Em relação aos espanhóis, os trabalhadores portugueses ganhavam menos 800 euros, segundo uma aproximação bruta aos rendimentos mensais na mediana de 2022.

Já em relação à Estónia, os portugueses recebiam em média menos mil euros, uma diferença que aumenta ainda mais quando se compara com os salários pagos em Itália (mais dois mil euros) ou na Irlanda e na Alemanha, que são mais de quatro mil euros todos os meses.

“Os baixos valores da remuneração do trabalho em Portugal podem constituir um desincentivo à qualificação dos mais jovens e à requalificação dos mais velhos e, desse modo, comprometer o esforço de elevação das qualificações dos portugueses”, alerta o estudo, que recomenda um reforço das políticas que promovam a formação dos jovens e dos adultos.

“Repare-se que, apesar dos reconhecidos progressos alcançados ao longo das últimas décadas, em 2023, 40,6% dos portugueses possuía, no máximo, um diploma da educação básica, a maior percentagem de baixas qualificações dos 27 países da União Europeia”, sublinha o presidente do CNE, Domingos Fernandes.

Apesar do aumento geral de qualificações da população, ainda existem grandes assimetrias regionais, como é o caso do Algarve, dos Açores e da Madeira, onde a escolaridade da população é muito inferior à registada, por exemplo, no norte ou no centro do país.

Recordando os estudos que apontam para o forte impacto da formação dos pais no sucesso académico dos filhos – metade dos jovens “reproduz as baixas habilitações dos progenitores” — os investigadores apelam a medidas que garantam o envolvimento dos adultos em atividades de educação e formação.

“A melhoria consistente das taxas reais de escolarização e de conclusão que se verificam no ensino secundário nas três últimas décadas tem sido relevante para o aumento das qualificações dos jovens adultos”, sublinha o presidente do CNE, Domingos Fernandes, no texto introdutório do relatório.

O estudo mostra que é preciso olhar também para os jovens adultos rapazes, uma vez que agora são eles quem mais abandona precocemente a escola, quando há algumas décadas, essa era uma prática mais usual entre as raparigas.

“Subsistem, portanto, dois desafios: incentivar os rapazes a obterem diplomas de estudos mais avançados e desenvolver estratégias que permitam compreender e dirimir as assimetrias regionais”, concluem os investigadores.

Também diminuíram os casos de jovens que não estudam nem trabalham: A proporção de jovens entre os 18 e os 24 anos nesta situação passou de 18,3% em 2016 para 13,2% em 2023, ano em que mais de metade (55,3%) ainda estava a estudar e 31,6% estavam a trabalhar.

No ensino superior, o CNE defende um reforço das políticas de atribuição de bolsas aos mais carenciados e o alargamento da oferta de alojamento estudantil a custos acessíveis.

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