A Comissão Executiva do GMG informou os seus trabalhadores, numa comunicação interna a que a Lusa teve acesso, que não tinha condições para pagar os salários referentes ao mês de dezembro, sublinhando que a situação financeira é “extremamente grave”.
O Governo manifestou hoje perplexidade com as dificuldades financeiras alegadas pelo Global Media Group (GMG) para o não pagamento dos salários de dezembro, lembrando a intenção de “investimento no jornalismo” do novo acionista, quando este entrou no grupo.
“Gera a maior das perplexidades que, após a entrada de um novo acionista num grupo económico — a qual foi acompanhada de declarações de investimento no jornalismo –, se tenha passado rapidamente para afirmações de sentido contrário, que culminaram, no dia de hoje, no anúncio de que os salários do mês de dezembro não serão pagos na data devida”, destacou o Ministério da Cultura, em comunicado.
A tutela sublinhou que “cabia aos investidores estarem informados sobre as circunstâncias financeiras do grupo em que decidiram investir, pelo que não é crível virem agora alegar desconhecimento”.
A Comissão Executiva do GMG informou hoje os seus trabalhadores, numa comunicação interna a que a Lusa teve acesso, que não tinha condições para pagar os salários referentes ao mês de dezembro, sublinhando que a situação financeira é “extremamente grave”.
Para esta situação contribuiu, segundo a empresa, o “inesperado recuo” do Estado no negócio para a compra das participações que o grupo tem na agência Lusa, a “injustificada suspensão” da utilização de uma conta caucionada no Banco Atlântico Europa há seis anos e de “todo o aproveitamento político-partidário” feito em redor da Global Media.
Sobre este processo negocial, o Ministério da Cultura frisou que tinha como objetivo “que o Estado pudesse vir a assumir uma posição mais significativa na estrutura acionista da Agência Lusa visava preservar a autonomia desta agência e o seu papel na defesa do jornalismo”.
“Tal operação tinha um propósito estratégico e, como é evidente, não podia ser encarada como a solução para problemas de tesouraria de curto prazo eventualmente enfrentados por um novo acionista”, apontou.
O Governo destacou também a inexistência de um compromisso político com o principal partido da oposição [PSD] que “inviabilizou esta operação, que teria permitido que o serviço da Lusa passasse a ser disponibilizado gratuitamente a todos os órgãos de comunicação social”.
Ainda sobre a crise no GMG, que detém a TSF, O Jogo, Diário de Notícias (DN) e Jornal de Notícias (JN), entre outros, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, dirigiu hoje uma carta à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), para averiguar “as consequências da crise deste grupo de comunicação social para o pluralismo da informação em Portugal, uma vez que tal grupo detém um conjunto de títulos fundamentais para assegurar a diversidade da oferta mediática, quer do ponto de vista da informação de proximidade, quer à escala nacional”, pode ler-se no comunicado.
“O não pagamento de salários é uma situação crítica, com consequências dramáticas para os trabalhadores. A Global Media deve assegurar o pagamento dos salários devidos, podendo, no limite, desencadear os mecanismos necessários para que o Fundo de Garantia Salarial seja acionado”, frisou ainda o Ministério da Cultura, garantindo que o Governo está a acompanhar a situação dos trabalhadores através da Autoridade para as Condições do Trabalho, para “garantir o cumprimento da legislação laboral”.
Para o Governo, no imediato “são os trabalhadores destes órgãos quem enfrenta as dificuldades mais graves”, mas, “num plano mais amplo, o ambiente de instabilidade que hoje se vive nas redações da Global Media corresponde a um empobrecimento do pluralismo informativo, que comporta sérios riscos para a democracia”.