André Villas-Boas critica pressa da FC Porto SAD para acelerar acordo com Ithaka.
A SAD do FC Porto celebrou um contrato de investimento e parassocial com a Ithaka Infra III para elevar a utilização e rentabilidade económica do Estádio do Dragão, no Porto, anunciaram hoje os vice-campeões nacionais de futebol.
Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), os “dragões” detalharam o acordo de 25 anos com aquela sociedade localizada em Madrid, Espanha, que aportará “experiência em investimentos em desporto e infraestruturas na Europa”, tendo como consultor financeiro e estratégico exclusivo a Key Capital Partners.
“A Ithaka terá direito ao longo dos próximos 25 anos a 30% dos direitos económicos de uma nova sociedade (a incorporar no Grupo FC Porto), que se dedicará a incrementar o potencial comercial do Estádio do Dragão”, sublinhou o FC Porto, focando no “corporate hospitality”, na sponsorização, na bilhética, nos direitos de designação e nas visitas ao recinto, no museu do clube ou na organização de eventos não desportivos e concertos.
Visando embolsar “outras receitas presentes ou futuras” ligadas ao Estádio do Dragão, a administração liderada por Pinto da Costa vinca o “potencial transformador” da parceria.
“A Ithaka investirá 65 milhões de euros (ME) no FC Porto, dos quais cerca de 30 ME vão ser integralmente reinvestidos no Estádio do Dragão durante os primeiros anos, sendo o remanescente destinado a aumentar a competitividade do FC Porto. Após o decurso do prazo de 25 anos, o clube recupera 100% dos direitos económicos do estádio”, explicou.
O FC Porto vai manter o controlo e a gestão sobre as operações do Estádio do Dragão, bem como a propriedade total do mesmo ao longo da parceria, que conta com o “apoio operacional” da companhia norte-americana Legends, junto da qual os “azuis e brancos” tinham celebrado um acordo para a exploração daquele recinto em novembro de 2023.
“Essa aliança estratégica deverá aumentar significativamente as receitas do Estádio do Dragão, sendo que a experiência única da Ithaka, da Key Capital Partners e da Legends em recintos desportivos, em conjunto com os investimentos que serão efetuados para melhorar o estádio, vão possibilitar ao FC Porto oferecer novas experiências”, afiançou.
O acordo foi anunciado a nove dias das eleições do FC Porto rumo ao quadriénio 2024-2028, numa altura em que Pinto da Costa está a cumprir o 15.º mandato seguido, desde 1982, detendo o estatuto de dirigente com mais títulos e longevidade do futebol mundial.
“Espera-se que a parceria estratégica tenha início no princípio da próxima época, ficando sujeita ao cumprimento de condições “standard” de mercado, sobretudo a finalização pela Ithaka de um financiamento de longo prazo relativo ao seu investimento, bem como na constituição da nova sociedade do Grupo FC Porto na qual a Ithaka investirá”, finalizou.
As eleições dos órgãos sociais do FC Porto para o quadriénio 2024-2028 são disputadas por três candidaturas, encabeçadas pelo atual presidente “azul e branco”, Pinto da Costa (lista A), André Villas-Boas (B), antigo treinador do clube, e Nuno Lobo (C), empresário e professor, incluindo ainda uma lista independente ao Conselho Superior comandada por Miguel Brás da Cunha (D).
André Villas-Boas critica pressa da FC Porto SAD para acelerar acordo com Ithaka
A aceleração do contrato selado hoje entre a FC Porto SAD e a sociedade espanhola Ithaka Infra III para a exploração comercial do Estádio do Dragão causou descontentamento a André Villas-Boas, candidato às próximas eleições do clube.
“Porquê a pressa? A venda de 30% de direitos comerciais do FC Porto custa-nos muito. Apesar de o parceiro ser bom, isto é um indicador de falência operacional e de encaixe. Quando se vende algo sem necessidade, ou é por incompetência ou é por necessidade operacional. Custa-nos muito a aceleração desses processos, sem colocar em causa a qualidade desse mesmo parceiro. É um sinal revelador que nos preocupa”, reconheceu.
A oficialização do acordo por 25 anos com a Ithaka foi concretizada ao final da tarde, em comunicado enviado pela FC Porto SAD à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), praticamente ao mesmo tempo em que André Villas-Boas iniciava a sessão de apresentação do espanhol Andoni Zubizarreta e de Jorge Costa, antigo capitão do clube, como candidatos da lista B à chefia desportiva e do futebol profissional, respetivamente.
“É mais uma aceleração de um processo que esta direção encarará. Há que conhecer as pessoas quando lá chegarmos e perceber os porquês disto. Custa quando se vende por inoperância. Quando se vende a nove dias das eleições, é grave para os sócios”, frisou.
André Villas-Boas lamentou ainda as notícias difundidas na segunda-feira acerca de um eventual incumprimento por parte dos vice-campeões nacionais das regras do regime de “fair play” financeiro da UEFA, no período compreendido entre outubro de 2023 e janeiro.
“Ainda esta semana tivemos novas notícias sobre incumprimentos. As perguntas ficaram novamente por responder: houve ou não incumprimento? Há ou não uma coima [de dois milhões de euros] a caminho? Há ou não risco de pena suspensa [de participação] nas competições europeias?” atirou, incidindo num dos negócios estruturantes abordados na missiva que dirigiu à administração da SAD liderada por Pinto da Costa em 14 de março.
Na segunda-feira, o FC Porto negou que tenha infringido ou que possa estar em risco de incumprir o “fair play” financeiro, assegurando que cumpria todos os requisitos em 31 de março e que já recebeu a licença para competir nas provas europeias da próxima época.
Em resposta por escrito à agência Lusa, fonte oficial da UEFA afirmou “não ter nenhum comentário ou informação a dar nesta altura” sobre a situação financeira “azul e branca”.
“É falso que o FC Porto incumpriu em determinados períodos, mas não nesses. Essa é a questão e faltam-nos respostas. Ninguém se desloca à UEFA para tomar café. Estamos muito preocupados. Todos vimos o presidente agarrado de uma forma muito tática a um comunicado, mas há essas questões muito fáceis de responder. Parece-nos que poderá haver uma surpresa negativa a caminho, o que é muito grave”, notou André Villas-Boas.
As eleições dos órgãos sociais do FC Porto para o quadriénio 2024-2028 são disputadas por três candidaturas, encabeçadas pelo atual presidente “azul e branco”, Pinto da Costa (lista A), André Villas-Boas (B) e Nuno Lobo (C), empresário e professor, incluindo ainda uma lista independente ao Conselho Superior comandada por Miguel Brás da Cunha (D).
“Ontem [na quarta-feira], tivemos a informação de que, neste momento, apenas cerca de 40.000 sócios já estão com capacidade eleitoral. Ou seja, 30.000 têm a quota [de março] para regularizar. É importante baixar esse número massivo para que estas se tornem as eleições mais concorridas de sempre. Na verdade, muitas pessoas votarão pela primeira vez e poderemos estar perante um caos operacional para a renovação de quotas, que as pode impedir de fazer essa regularização no próprio dia”, alertou o ex-treinador do clube.
O ato eleitoral decorre em 27 de abril, das 09:00 até às 20:00, no Estádio do Dragão, no Porto, numa altura em que Pinto da Costa está a cumprir o 15.º mandato seguido, desde 1982, detendo o estatuto de dirigente com mais títulos e longevidade do futebol mundial.