Falhou acordo para resolver litígio entre proprietário e inquilino do Sá da Bandeira no Porto

O Teatro Sá da Bandeira foi classificado como monumento de interesse público em janeiro de 2020, sendo descrito como “um dos mais importantes marcos do património cultural da cidade”.

Setembro 13, 2024

O proprietário do Sá da Bandeira, no Porto, e o inquilino que gere o teatro há décadas, não conseguiram chegar hoje a um acordo para pôr fim ao litígio judicial sobre a requalificação do imóvel classificado como de interesse público.

A proprietária Lello Vitória – Livros e Turismo, Lda. moveu uma ação contra o inquilino Rocha, Brito & Vigoço, Lda., na qual pede que este seja obrigado a fazer as obras de requalificação que o teatro necessita, sob pena de ver rescindido o seu contrato de arrendamento.

Em abril, os dois tinham-se mostrado disponíveis para chegar a um entendimento, contudo, em sede de audiência prévia, que decorreu hoje ao início a manhã no Tribunal Judicial da Comarca do Porto, tal não se materializou.

À Lusa, o advogado Luís Bianchi de Aguiar, em representação do inquilino, explicou que o entendimento “foi posto sempre na perspetiva do termo do contrato de arrendamento”, perspetiva que “não estava na mente do seu cliente” quando se preparou para esta audiência prévia.

Contudo, durante a audiência, o seu cliente até admitia a hipótese de discutir esta questão, se o valor para aceitar o término do contrato de arrendamento “fosse uma proposta que justificasse”.

“A proposta é baixíssima e feita no pressuposto que o teatro está em más condições, o que não é verdade”, declarou o advogado de defesa.

O teatro, continuou, “tem a agenda preenchida para dois anos e meio e a Livraria Lello continua a dizer que o teatro não dá dinheiro, não tem atividade e tem atividades ilícitas”, assinalou.

Escusando a divulgar o valor proposto pela proprietária do teatro, o advogado adiantou apenas que “é inferior à faturação da última peça que o teatro tem a funcionar neste momento”.

Já Avelino Pedro Pinto, em representação da proprietária Lello, desafiou o administrador da empresa inquilina a provar que o teatro não representa um risco de segurança, como alega no processo.

“Queria desafiar este senhor (…) para ir a Teatro Sá da Bandeira, ver se aquilo que está no teto é uma lona que substitui o original, que é uma vergonha para o património imaterial. Se quiser vamos lá e vemos, não andamos com mentiras. (…) Quem perde é o Porto”, declarou Pedro Pinto, remetendo mais esclarecimentos para um comunicado.

Em declarações à Lusa, o administrador do Sá da Bandeira rejeitou estas acusações, sublinhando que “no máximo, de dois em dois anos”, o Ministério da Cultura, os Bombeiros, a Câmara do Porto e Proteção Civil – “as quatro entidades que gerem os teatros e cinemas em Portugal” – procedem a vistorias, tendo as questões de segurança levantadas sido “sempre resolvidas de forma a que o teatro continuasse a funcionar”.

“Se não tivesse condições de segurança, não poderia funcionar”, declarou.

O advogado Luís Bianchi de Aguiar disse ainda estar convicto que o tribunal vai ordenar “uma peritagem” ao teatro.

Em 18 de março, o Tribunal Judicial do Porto instigou as partes, numa tentativa de conciliação, a “abandonarem as posições intransigentes e a mostrarem-se dispostas a ceder para obter uma solução acordada”.

Na ação em causa, a Livraria Lello – que comprou o espaço à Câmara do Porto, em 2019 – alega que o arrendatário deve pagar as obras de reabilitação do teatro, orçadas em 2,1 milhões de euros, sob pena do contrato de arrendamento ser rescindido.

Um entendimento rejeitado pelo arrendatário que contesta a petição inicial e acusa a Lello de “abuso do direito” e “assédio no arrendamento”, pedindo que as obras de reabilitação sejam realizadas e pagas pelo proprietário.

De acordo com um relatório técnico de peritagem, encomendando pela Lello em 2021 e concluído no ano seguinte, o edifício “representa graves riscos de ocorrência de incêndio e um muito baixo nível de segurança para os ocupantes do mesmo”.

O Teatro Sá da Bandeira foi classificado como monumento de interesse público em janeiro de 2020, sendo descrito como “um dos mais importantes marcos do património cultural da cidade”.

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