Defendem ainda que “o caminho a seguir é o da negociação aberta e transparente” entre os estudantes e os órgãos dirigentes das instituições.
Meia centena de docentes e trabalhadores não docentes da Universidade do Porto e do Politécnico do Porto apelam hoje, numa carta aberta, à não utilização de meios policiais contra os estudantes pró-palestina em protesto na Faculdade de Ciências.
Os ativistas pró-palestina que desde quinta-feira se mantêm em protesto na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto receberam, no domingo, a indicação para desmobilizarem até às 20:00 de hoje ou “serão acionados meios” para os retirar.
Numa carta aberta, a que a Lusa teve acesso, os subscritores – professores, investigadores e trabalhadores – expressam a sua “solidariedade para com os estudantes em luta contra o genocídio em curso na Palestina” e pedem que “não sejam utilizadas, contra os estudantes, e nas [suas] faculdades, meios policiais ou qualquer tipo de intervenção que os vise expulsar de um espaço que é seu”.
Defendem ainda que “o caminho a seguir é o da negociação aberta e transparente” entre os estudantes e os órgãos dirigentes das instituições.
No documento, conhecido hoje, os signatários colocam-se ainda ao lado dos estudantes, subscrevendo as suas principais reivindicações, desde logo exigindo que a universidade “rompa imediatamente todas as relações que mantém com instituições e empresas israelitas” e condene o “genocídio na Palestina”.
Pede-se ainda que a UP utilize “a sua influência” para instar a Câmara Municipal do Porto e o Governo português a “condenar as atrocidades cometidas pelo estado colonial de Israel”.
Entre os subscritores da missiva estão o professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ex-deputado do PCP, Manuel Loff, e o sociólogo, também professor da Faculdade de Letras e ex-dirigente do Bloco de Esquerda, João Teixeira Lopes.
Depois da ordem de desmobilização da direção da Faculdade de Ciências, os ativistas pró-palestina marcaram uma manifestação para esta tarde, em frente à faculdade.
Os estudantes estão desde o início da manhã “a reunir e a deliberar democraticamente em assembleia”, de forma a decidir quais serão os seus próximos passos, decisão que será tomada após reunião, desta tarde, com a direção da Faculdade.
Independentemente da ocupação se manter ou não, os estudantes garantem que as ações em defesa do povo palestiniano se manterão.
O grupo de ativistas afirma que “a comunidade académica – não só estudantes, mas também docentes e não docentes – tem demonstrado vincadamente o seu apoio a esta causa, assim como membros da sociedade civil”.
Este protesto teve o primeiro momento há mais de uma semana quando cerca de meia centena de estudantes reclamaram diante da reitoria da Universidade do Porto o corte de relações entre a academia e o Estado de Israel.
Na quinta-feira, os estudantes prosseguiram com o protesto na Faculdade de Ciências, onde colocaram tendas de campismo para se abrigarem durante a noite rodeadas de bandeiras da Palestina, velas e faixas com frases como: “Solidariedade proletária por uma Palestina Livre”, “Israel não é uma democracia, Israel é um país terrorista” e “A revolução começa aqui”.
O conflito em curso na Faixa de Gaza foi desencadeado pelo ataque do grupo islamita Hamas em solo israelita de 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou acima de 35 mil mortes, na maioria civis, de acordo com as autoridades locais controladas pelo Hamas, e deixou o enclave numa situação de grave crise humanitária.