Defesa de Salgado invoca “dignidade humana” e opôs-se a questões do tribunal

Ricardo Salgado esteve esta sexta-feira no tribunal, mas acabou por não prestar declarações.

Fevereiro 9, 2024

A defesa do ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, invocou hoje a “dignidade humana” para se opor a questões do tribunal no julgamento do Caso EDP, permitindo apenas a identificação durante cerca de 10 minutos.

“O meu cliente está diagnosticado com doença de Alzheimer, como está comprovado. As declarações estão comprometidas e, em defesa da dignidade humana, a defesa não vai aceitar que ele preste mais declarações. Não por não querer, mas por causa da doença. É esta a decisão da defesa”, declarou o advogado Francisco Proença de Carvalho, depois de várias questões de identificação feitas pela juíza-presidente Ana Paula Rosa.

O ex-banqueiro chegou à sala de tribunal pelas 10:15, poucos minutos depois de ter entrado pela porta da frente do Juízo Central Criminal de Lisboa, visivelmente debilitado e acompanhado pela mulher, Maria João Salgado, e pelos dois advogados, Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce.

Após uma pequena indefinição onde o ex-banqueiro e a mulher poderiam ficar sentados, uma vez que Salgado assumiu ter perdido audição e que não conseguia ouvir bem, o tribunal começou a proceder à identificação formal do arguido. A juíza-presidente perguntou o nome, o nome dos pais, a data de nascimento, o estado civil e o local onde morava — questões às quais Ricardo Salgado conseguiu responder.

Porém, quando questionado sobre a morada de residência, expressou a primeira limitação: “Tenho de perguntar à minha mulher”.

Já sobre o que fez na vida, o antigo presidente do BES soube indicar que foi banqueiro. “Sempre”, complementou, antes de voltar a mostrar dificuldades para demonstrar saber os factos do caso que o levaram a estar hoje em tribunal: “Isso já não sei explicar”.

Ricardo Salgado reconheceu e identificou de seguida o ex-ministro da Economia Manuel Pinho, igualmente presente na sala de audiência, e foi quando a juíza procurou confirmar que trabalharam juntos no BES e onde também conheceu a mulher do antigo governante e também arguida, Alexandra Pinho, que a defesa de Salgado acabou por interromper.

A juíza-presidente Ana Paula Rosa argumentou que ainda nem tinha feito perguntas e que estava somente na fase de identificação.

Acabou então por questionar apenas Ricardo Salgado se sabia que o julgamento já tinha começado há algum tempo e se permitia que continuasse na sua ausência, ao que o ex-banqueiro acedeu. A audição terminou ao fim de 10 minutos, praticamente dois anos depois de ter estado pela última vez no Campus da Justiça, então no julgamento do processo separado da Operação Marquês, em que seria condenado em março de 2022 a seis anos de prisão.

O ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, está a ser julgado no Caso EDP por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais, num processo em que são também arguidos o ex-ministro da Economia Manuel Pinho (corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal) e a sua mulher, Alexandra Pinho (branqueamento e fraude fiscal – em coautoria material com o marido).

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