Câmara do Porto recusa responsabilidade nos atrasos do metrobus

Rui Moreira afirma que as considerações feitas na resposta da Metro “não correspondem à verdade” e critica o “mau planeamento” da empresa na condução da empreitada”.

Junho 18, 2024

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, disse hoje não compreender a atribuição de responsabilidades ao município pelos atrasos na obra do metrobus, defendendo que tal foi provocado pela falta de mão-de-obra nas frentes de obra.

“Não compreendo o facto de atribuírem a imposição do município do Porto (…) como causa dos atrasos na empreitada”, afirma Rui Moreira numa carta enviada hoje ao presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga.

Na missiva, a que a Lusa teve hoje acesso, Rui Moreira diz que foi a falta de mão-de-obra nas frentes em execução “o que manifestamente terá comprometido os prazos exigidos”.

“Até um leigo na matéria poderia atestar este como um dos motivos evidentes para o atraso na conclusão da empreitada”, considera.

Numa resposta escrita enviada ao grupo de trabalho da Assembleia Municipal do Porto que acompanha os investimentos no transporte público, Tiago Braga esclareceu que a “obrigatoriedade imposta pelo município de manter sempre em funcionamento duas vias de circulação rodoviária em cada sentido na Avenida da Boavista” levou a uma reformulação do projeto.

Tiago Braga acrescentava ainda que a obra foi “fortemente condicionada pelo exíguo espaço disponível”.

“O trabalho desenvolvido foi muito para além da implementação de uma nova tipologia de transporte, servindo também para a reabilitação infraestrutural de uma das artérias mais importantes da cidade do Porto”, acrescentou.

Hoje, Rui Moreira afirma que as considerações feitas na resposta da Metro “não correspondem à verdade” e critica o “mau planeamento” da empresa na condução da empreitada num ambiente urbano “altamente densificado” como é a Avenida da Boavista.

Dizendo não questionar a importância da implementação de novos sistemas de mobilidade e que estes inevitavelmente causam constrangimentos na execução, Rui Moreira afirma, no entanto, que uma intervenção da envergadura do “metrobus” “carece de toda a atenção possível” e de uma meticulosa preparação para que o impacto seja o menor possível.

Para o autarca independente, a solução inicialmente prevista pela Metro – ocupar uma via em cada sentido e das duas vias centrais, deixando livre uma via de trânsito em cada sentido – teria “impactos significativos na atividade económica, estabelecimentos de ensino, acesso a garagens e habitações, e todas as interceções ao longo daquela artéria”.

“Para que seja possível equacionar o impacto que a empreitada iria gerar, sem a intervenção do município do Porto, a Metro pretendia implementar o corte da saída da Via de Cintura Interna (VCI) para a Avenida da Boavista (sentido nascente)”, refere, acrescentando que tal seria “uma sentença de morte à cidade do Porto”.

Rui Moreira afirma também que cabe ao município determinar as condições para todas as intervenções na cidade e à Metro do Porto “respeitarem as condições impostas”.

Na missiva, Rui Moreira tece ainda comentários à frente de obra na Avenida Marechal Gomes da Costa, onde o projeto foi alterado para contemplar a construção de uma caixa de pavimento com uma profundidade de um metro abaixo do nível da via pública, que acarretou “um atraso adicional de dois meses”.

“Fica a questão se neste caso a Metro do Porto pode alegar a imposição do município como condicionante para o atraso das obras”, observa.

Contactada pela Lusa, a Metro do Porto não quis comentar.

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