Para Francisco Rocha Antunes, que liderou as conversações com comerciantes e lojistas do mercado desde 2014, ainda antes do início das obras, “acusar a autarquia de falta de diálogo é disparatado”, já que ao longo do processo foram feitas mais de três mil reuniões com os comerciantes.
O ex-coordenador do antigo Gabinete do Mercado do Bolhão (GMB), no Porto, considerou ser “completamente impossível de sustentar” acusações de falta de diálogo e transparência com os comerciantes na gestão do espaço.
Em declarações à Lusa, Francisco Rocha Antunes explicou sentir necessidade de defender a gestão municipal e pública do Bolhão por entender ser “a melhor que pode existir” para aquele mercado de frescos – que reabriu portas em 15 de setembro de 2022 depois de uma “grande e complexa” operação de restauro -, apesar de reconhecer a existência de “alguns problemas e questões técnicas” ainda por resolver.
Na sexta-feira, a Associação do Comércio Tradicional Bolha de Água anunciou que vai solicitar à Câmara do Porto e à Inspeção-Geral de Finanças (IGF) uma “auditoria externa e independente” à gestão do Mercado do Bolhão, liderada pela empresa municipal GO Porto.
Segundo a associação, que representa alguns comerciantes do Bolhão, volvidos 18 meses da reabertura do mercado centenário continua a haver “falta de diálogo e participação dos comerciantes”.
Para Francisco Rocha Antunes, que liderou as conversações com comerciantes e lojistas do mercado desde 2014, ainda antes do início das obras, “acusar a autarquia de falta de diálogo é disparatado”, já que ao longo do processo foram feitas mais de três mil reuniões com os comerciantes.
“Eu tenho muita dificuldade em perceber isso [o pedido de auditoria e as acusações]. Dizer-se que a câmara não quis saber ou que a câmara não tem uma gestão transparente é completamente impossível de sustentar, precisamente porque o que caracteriza a gestão da câmara deste processo é ser absolutamente transparente”, defendeu.
Para o antigo responsável do GMB – que continuou ligado ao processo do Bolhão mesmo depois de o gabinete ter sido absorvido pela Go Porto em 2018, mas que fez questão de realçar que atualmente nada tem a ver com a estrutura -, a “ideia da auditoria” não segue uma lógica de serviço público.
“Parece-me uma questão de procura de protagonismo. Questionar a gestão pública disto só pode interessar a alguém que beneficie disso, que tenha interesse comercial nisto”, apontou.
Francisco Rocha Antunes reconheceu o “papel extraordinário” que a Bolha de Água, criada em 2008, teve no combate à ideia de privatizar o espaço (ideia que presidiu à sua constituição), mas alertou que “essa ameaça desapareceu”.
“Confesso que pensava que a Bolha de Água estava extinta, deixei de ouvir falar dela depois dos dois primeiros anos na gestão do GMB, e tenho dificuldade em perceber o papel desta associação agora e estas acusações à gestão municipal do Bolhão”, referiu.
A Bolha de Água, criada pelos lojistas de fora do Mercado do Bolhão, aponta o dedo ao funcionamento do espaço, nomeadamente à “aplicação de multas consideradas excessivas e ilícitas” e a problemas relacionados com a própria infraestrutura, como a localização das bancas dos congelados debaixo das escadas, “sem visibilidade e sem ventilação”.
Quanto às multas, Francisco Rocha Antunes explicou que “foram os comerciantes a pedir que as regras do mercado voltassem a ser cumpridas, e se existem têm que ser seguidas”.
Quanto à secção dos congelados, admitiu que “há questões”.
“Foi necessário encontrar espaços num imóvel reabilitado, que não se pode escavacar como se apetece, e o sítio onde havia condições físicas para todas as arcas dos congelados era ali”, justificou.
As arcas foram instaladas pelos comerciantes e, segundo o antigo responsável, “têm uma ótima potência”, mas gera-se “um calor que não estava previsto”.
“É uma questão técnica que está a ser estudada, mas tem a ver com abrir ventilações e abrir ventilações significa abrir buracos. Isso significa uma negociação com o património que não é simples”, explicou.
Este, assumiu o ex-coordenador, é um dos pontos que, do ponto de vista técnico, “não correu tão bem”, mas “isso não faz a gestão municipal trágica e irresponsável”.
“O imóvel é um imóvel classificado e não se quer nunca que perca esta classificação”, realçou.