Ameaça ligada à extrema-direita aumenta em Portugal em 2023

O “aceleracionismo” é uma tendência associada à extrema-direita que defende uma “aceleração” do capitalismo e o caos para “derrubar” a ordem existente.

Maio 29, 2024

Portugal registou em 2023 um agravamento da ameaça ligada aos extremismos políticos, sobretudo de extrema-direita, com a retoma da atividade de organizações neonazis e identitárias, indica o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).

“No campo dos extremismos políticos, assistiu-se a um agravamento da ameaça representada por estes setores, sobretudo no âmbito da extrema-direita”, alerta o documento entregue hoje pelo governo à Assembleia da República.

Segundo o relatório de 2023 elaborado pelo Sistema de Segurança Interna, após um período de estagnação, as organizações tradicionais e os militantes dos setores neonazi e identitário “retomaram a sua atividade, promovendo ações de rua e outras iniciativas com propósitos propagandísticos”.

“Paralelamente, também foram criados projetos e organizações por jovens que estendem o alcance da mensagem extremista a uma nova geração com um perfil distinto”, adianta o RASI na análise nacional relativa ao último ano.

Este crescimento da extrema-direita, nomeadamente entre as gerações mais jovens, deveu-se, em grande parte, ao “esforço desenvolvido na esfera virtual”, que constituiu o “principal veículo de disseminação de propaganda e motor de radicalização”, refere o documento.

Este recurso aos meios digitais contribuiu, assim, para a proliferação das narrativas extremistas, que atingem um público mais alargado e diversificado, adianta ainda o RASI, ao alertar que o meio virtual tem sido também o “principal viveiro dos `aceleracionistas´, radicalizados pela exposição à propaganda, pelo universo violento do `gaming´ ou até pelo contacto com militantes de outras geografias, alguns associados a células ou grupos de cariz terrorista”.

O “aceleracionismo” é uma tendência associada à extrema-direita que defende uma “aceleração” do capitalismo e o caos para “derrubar” a ordem existente.

Já quanto à extrema-esquerda, o documento indica que também o movimento anarquista e autónomo retomou a atividade de rua em 2023, após um período de estagnação, associando-se a manifestações de massa em torno de causas transversais à sociedade portuguesa, como o direito à habitação ou a melhoria das condições de vida.

No entanto, estes movimentos imprimiram um “cunho ideológico anticapitalista”, recorrendo a atos de vandalismo e a provocações às forças de segurança que visavam “mobilizar os demais participantes para uma luta contra o sistema”.

No último trimestre de 2023, a causa palestiniana também foi apoiada por estes setores, através da participação em manifestações, mas sem registo de incidentes relevantes, refere o relatório entregue no parlamento.

À semelhança do que se verificou a nível internacional, foi no movimento ambientalista de matriz anticapitalista que se observou uma maior radicalização, através do recurso reiterado a ações ilegais e a atos de vandalismo, bem como de uma “tentativa de sabotagem de uma infraestrutura crítica”.

“A causa ambientalista continuou a revelar-se fundamental para o recrutamento de jovens para diferentes setores da extrema-esquerda”, realça o RASI, ao adiantar que, relativamente aos movimentos antissistema surgidos durante a pandemia da covid-19, “perderam quase toda a relevância” em 2023.

Em relação à análise a uma “ameaça terrorista de matriz islamista”, alguns eventos internacionais — como atos de profanação do Corão e a tensão no Médio Oriente — também “tiveram algum eco no seio das comunidades islâmicas” em Portugal.

Ainda que não tenham sido recolhidos indícios concretos sobre o planeamento de ataques terroristas, foram identificados “casos pontuais de apologia do Hamas e dos ataques contra Israel e, igualmente, reações hostis sobre a profanação do Corão”, adianta.

A atual conjuntura internacional “favorece o desenvolvimento de processos de radicalização com propensão para a violência, que poderão resultar na execução de ataques terroristas, não estando Portugal imune a este fenómeno”, alerta o documento.

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