
Da Tate Modern para Serralves, Zanele Muholi transforma o Museu com mais de 200 fotografias para refletir sobre a opressão.
A Fundação de Serralves apresenta Zanele Muholi, uma retrospetiva organizada pela Tate Modern, em colaboração com o Museu de Serralves, com maisde 200 fotografias exibidas em salas transformadas propositadamente para a exposição. É a maior retrospetiva da sua trajetória até ao momento e propõe uma reflexão crítica sobre as consequências coloniais, a opressão e a discriminação.
Zanele Muholi (n. 1972, Durban, África do Sul) é uma voz essencial na arte contemporânea e no ativismo social, e seguramente um nos nomes mais relevantes das artes visuais e da fotografia atualmente, com uma longa e muito aclamada carreira. A sua prática artística coloca no centro as vivências e lutas das comunidades negras e LGBTQIA+, indo muito além do simples registo visual ou documental. A exposição em Serralves assinala a primeira grande apresentação da sua obra em Portugal.
Para além de narrar histórias de resistência e resiliência, Muholi utiliza a câmara também para explorar, através de autorretratos, temas como a raça e o poder do olhar negro — destacando-se neste campo a célebre série Somnyama Ngonyama (“Viva a Leoa Negra”), que projetou a sua obra no panorama internacional.
Os seus trabalhos combatem de forma ativa o preconceito e a discriminação e convida-nos a refletir sobre a urgência de uma sociedade mais inclusiva e equitativa. A exposição, estruturada em núcleos temáticos e organizada de forma cronológica, traça o percurso de Muholi desde o início da sua atividade como ativista, no começo dos anos 2000, até aos dias de hoje.
Utilizando a fotografia, Muholi tem-se dedicado a dar visibilidade a comunidades frequentemente marginalizadas ou mal compreendidas, expondo as injustiças sociais e políticas que enfrentam. A sua obra reivindica, inspira e questiona o lugar que estas comunidades ocupam na arte e na sociedade contemporâneas.
Com uma produção que provoca reflexão, Muholi é hoje uma das figuras mais respeitadas do meio artístico internacional, tendo estado presente em inúmeras exposições, individuais e coletivas, incluindo prestigiadas bienais como as de Veneza e Sidney.
Para além de proporcionar uma visão alargada do trabalho de Muholi, a mostra revisita acontecimentos significativos da história sul-africana, desde o período sombrio do apartheid até à contínua luta pelos direitos humanos e pela igualdade.
Num país como Portugal, onde o impacto do legado colonial permanece profundamente enraizado, esta exposição representa uma oportunidade valiosa para uma reflexão crítica sobre as consequências históricas e culturais da opressão e da discriminação. Ao mesmo tempo, sublinha a necessidade urgente de debater temas como a identidade cultural e de género, a memória e a justiça social.
Em 2023, o Museu de Serralves adquiriu um dos murais fotográficos de Muholi, apresentado pela primeira vez na inauguração da Ala Álvaro Siza.
A exposição Zanele Muholi foi organizada pela Tate Modern, Londres, em colaboração com a Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto.
Na Tate Modern, teve curadoria de Carine Harmand, curadora da John Ellerman Foundation na Tate Liverpool, e de Amrita Dhallu, curadora-assistente de arte internacional na Tate Modern. Foi já apresentada em prestigiadas instituições como o Gropius Bau, em Berlim; o Bildmuseet, em Umeå; o Institut Valencià d’Art Modern, em Valência; e a Maison Européenne de la Photographie, em Paris.
Em Serralves, a adaptação da exposição ao espaço do Museu é conduzida por Inês Grosso, curadora-chefe, e por Filipa Loureiro, curadora, e contou ainda com a colaboração do atelier de arquitetura Ventura Trindade e a coordenação de Giovana Gabriel.
A exposição será acompanhada por um ciclo de conversas, a anunciar em breve no site do museu, ampliando a reflexão sobre a sua obra e os ecos que encontra no contexto nacional. Com este propósito, o Museu de Serralves está ainda a colaborar com instituições locais, como a ILGA e a Casa Odara, no desenvolvimento dos programas públicos da exposição.
Zanele Muholi vai estar aberta ao público de 10 de abril a 12 de outubro.
Sobre Zanele Muholi
No seu trabalho humanitário e artístico, Zanele Muholi, ativista visual, documenta e celebra a vida das comunidades LGBTQIA+ negras. Nasceu em Umlazi, Durban, em 1972, e vive atualmente na Cidade do Cabo, África do Sul. Em 2009, concluiu o mestrado na Universidade Ryerson em Toronto. A partir de 2006, em resposta à discriminação e à violência permanentes a que está sujeita a comunidade LGBTQIA+ da África do Sul, fotografou lésbicas e pessoas transgénero negras, projeto que resultou na série de retratos em curso, Faces and Phases [Faces e fases]. A série mais recente, Somnyama Ngonyama [Viva a leoa negra], volta a lente para si, tornando-se participante nas imagens que cria. As suas obras foram expostas em várias bienais internacionais, trienais e em grandes museus de arte, como a Tate Modern, SFMoMA, MEP Paris, Kunstmuseum Luzern, Stedelijk Museum, Fotografiska (Estocolmo e Xangai), a Bienal de Veneza, dOCUMENTA (13) e a 29.ª Bienal de São Paulo. Foi-lhe atribuído um Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Liège (Bélgica), bem como o prémio ICP Spotlights Award e o Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres de França, entre outras distinções. A sua exposição individual de 2025 no Southern Guild Los Angeles, Faces and Phases 19, amplia a série original, com novos retratos íntimos de participantes em Los Angeles, Londres, São Paulo e Salvador.
Imagem: nvstudio